Sustentabilidade
Nunca um verdadeiro português foi português: foi sempre tudo.
Fernando Pessoa
Primeiro as raízes. Depois as asas.
A economia moderna segue um padrão que remunera principalmente os grandes agentes económicos que estão no fim da cadeia de valor, reduzindo a remuneração à medida que se aproxima do início. Um modelo que subverte a lógica, já que é no início que se criam as condições para a existência do que quer que seja. É lá que se gera valor.


O nosso conceito de sustentabilidade assenta num modelo de economia social que tem precisamente na origem o seu principal ativo. Invertemos a pirâmide ao promover o afastamento da economia linear por considerarmos que a viabilidade do futuro já não é apenas uma questão de sustentabilidade ambiental, mas também uma questão de sustentabilidade económica e social. Remunerar bem as bases – quem está no início da cadeia de valor – é a única forma de garantir a continuidade de ícones da nossa cultura, sejam eles o queijo Serra da Estrela DOP, as Conservas, a Filigrana, o Figurado de Barcelos, os Ovos Moles ou o Pão. Ou qualquer outro bem.
Mas vai muito além disso. Quanto mais o mundo progride rumo à tecnologia, mais rara e preciosa se torna a sabedoria manual; o trabalho produzido pelas mãos é algo que as máquinas nunca conseguirão superar ou sequer equivaler. Por isso deve ser valorizado, para que se mantenha atrativo e com perspetivas de futuro.
Remunerar bem as bases tem consequências para a economia e para a sustentabilidade: assegura a continuidade dos produtos feitos à mão, garante a manutenção de profissões ancestrais e oferece qualidade de vida às pessoas que verdadeiramente fazem acontecer. E mais: permite-nos gerar emprego qualificado e criar cenários mágicos, onde apresentamos com elevação produtos outrora pouco valorizados e hoje sobejamente admirados. Quem nos visita leva Portugal embrulhado em originalidade e nobreza, rumo aos quatro cantos do mundo.

O exemplo da Casa Portuguesa do Pastel de Bacalhau
A ovelha da raça Serra da Estrela, a principal raça ovina leiteira em Portugal, produz um leite de excecional qualidade a partir do qual a sabedoria das gentes serranas criou um queijo com Denominação de Origem Protegida e com mais de 1300 anos de História. O atual número reduzido de ovelhas é uma consequência do abandono da profissão pela falta de apoios, pela inércia do setor e pela subvalorização do potencial produtivo desta raça ovina.


O exemplo do Mundo Fantástico da Sardinha Portuguesa
Fundada em 1942, a Comur – Fábrica de Conservas da Murtosa, conheceu o auge da indústria conserveira portuguesa durante a Segunda Guerra Mundial e entrou em declínio décadas mais tarde, ao cair na armadilha de uma política de baixo preço. Das cerca de 400 fábricas de conservas em Portugal na década de ’60, restam hoje apenas 14.

O exemplo da Joalharia do Carmo
Uma das mais antigas artes da ourivesaria nacional, a Filigrana, sofreu um revés nos anos 90 quando um novo conceito de moda se alargou à joalharia: o minimalismo. A estética eliminou os detalhes criando modelagens mais amplas, curvas mais discretas e uma visão simplista, contrapondo os detalhes milimétricos dos anos 80.
