objetos com história
- arquitetura e decoração -
Jarrão de Prata
Joalharia do Carmo, Lisboa
O período pós-terramoto de 1755, em Lisboa, promoveu a construção da Muralha do Carmo junto às ruínas do convento do Carmo, na baixa da cidade. No decorrer de escavações feitas na muralha no início do séc. XX foram encontrados espaços desaproveitados e aí foram construídos alguns estabelecimentos comerciais, um dos quais a Ourivesaria Raul Pereira e Cia., Lda, com uma fachada caracterizada por um imponente coração, adotando em 1926 o nome Joalharia do Carmo.
O fim da Segunda Guerra Mundial potenciou um crescimento próspero para a compra de joias em Portugal, valorizadas como forma de adorno e representação social, mas também como reserva de valor intemporal. Por estar no centro histórico da capital, o Chiado era o local preferido para os passeios da nata da sociedade e a Joalharia do Carmo foi o espaço de eleição da elite lisboeta para listas de casamento e encomendas de imponentes baixelas, salvas e jarrões de prata, com desenhos exclusivos de peças em prata decorativa que garantiam a coerência da marca Joalharia do Carmo, simbolizando-a. O precioso metal era fundido, esculpido e polido pelas mãos de artesãos que incutiam no seu trabalho um nível de detalhe exímio e perfecionista para trazer ao mundo peças singulares, vistosas e imponentes, transformadas com precisão em objetos únicos. Nos anos 1990, com a valorização da prata, as peças atingiram valores que lhes conferiam o estatuto de verdadeiros tesouros, apesar de as peças decorativas terem perdido espaço para a joalharia de uso pessoal, mais cobiçada pelas novas gerações.
Hoje, em prata ou em ouro, é a filigrana que marca a identidade deste espaço centenário no coração de Lisboa, a sublimar a arte secular da joalharia tradicional portuguesa desde 1924. Mas o brilho prateado das peças decorativas de outros tempos, ali representado por um jarrão em prata portuguesa de 1980 a lembrar o seu legado, nunca se esbateu. Pelo contrário; sobressai.