objetos com história
- cerâmica e azulejaria -
Painel de azulejos “Ericeira”, de Maria Helena Vieira da Silva
Casa Portuguesa do Pastel de Bacalhau, Rua Augusta, Lisboa
Lisboa, 13 de junho de 1908, dia de Santo António, o padroeiro da cidade. O embaixador português na Suíça, Marcos Vieira da Silva, estava na capital e foi pai pela primeira vez. Nascia nesse dia – em que Fernando Pessoa fazia 20 anos, Maria Helena Vieira da Silva, que viria a ser uma das maiores artistas portuguesas do séc. XX e a primeira mulher a receber o “Grand Prix National des Arts” da França, em 1966. Vieira da Silva casou com o pintor húngaro Arpad Szenes, tendo feito da capital francesa a sua casa durante grande parte da sua vida.
O seu trabalho focou-se sobretudo em composições abstratas e intrincadas, com uma profundidade inspirada no cubismo, no surrealismo e na abstração geométrica. Numa relação com os azulejos hispano-árabes, na sua obra evidenciam-se os paralelepípedos e a arquitetura em camadas, arrojada, com manchas retangulares e linhas retas, mas poéticas. Há uma qualidade labiríntica nas estruturas da sua pintura, que brinca com o espaço de forma multidirecional. “A perspetiva é uma forma de brincar com o espaço. Gosto muito de olhar para o espaço e os ritmos. Há uma conexão entre a arquitetura de uma cidade e a música. Ambos têm tempos longos e tempos curtos. Janelas pequenas e janelas grandes.”
É dessa contextualização que surge o casario azul e branco no painel de azulejos “Ericeira”, fazendo da memória da vila uma contínua escultora do tempo e do espaço. Em ruas pedonais de casas imaculadamente brancas, com janelas e marquises pintadas de azul, Vieira da Silva consegue uma combinação harmoniosa de cores e formas, com vista para o mar português, onde os olhos vêm o essencial com ganas de deambular sem pressas neste painel de azulejos em exposição na Casa Portuguesa do Pastel de Bacalhau na Rua Augusta, em Lisboa, não nos deixando esquecer de onde viemos e onde pertencemos.