As exigências da organização contabilística vêm do tempo em que o papel era a única forma de garantir a titularidade dos bens em declarações escritas que a pena assinava e que o lacre vinculava, comprometia e assegurava. A necessidade de ordenar os documentos e valores que se iam multiplicando obrigava a uma organização racional em espaços que permitissem facilitar a consulta, algo a que a compartimentação acabaria por dar uma resposta prática e muito eficaz.

Na sua origem, o contador é uma peça funcional, tipicamente portuguesa (apesar de ser atribuída aos árabes uma peça muito semelhante durante o período de ocupação da Península Ibérica), a que as colónias redefiniram o aspeto e que outros países adotaram como seu, conferindo-lhes estilos próprios ao nível das estruturas, formas, decoração, materiais e execução. Mantiveram, todos, o seu propósito comum: servir a atividade de contar. Foi sobretudo no séc. XVII que esta peça se autonomizou, com a adição de uma mesa própria que servia de escritório e com derivações de pequenos cofres e pequenas arcas que lhe administravam funções híbridas.

O contador de estilo italiano que serve de “escritório” para as conservas na Comur da Rua dos Bacalhoeiros em Lisboa, data do final do séc. XVII – início do séc. XVIII e apresenta um trabalho riquíssimo de adornos com embutidos, folheado de tartaruga e aplicações em bronze. A caixa é composta por três ordens formadas por seis gavetas e uma porta central ornamentada com colunas torneadas, escondendo, no seu interior, mais quatro gavetas. A peça termina com seis pés dourados e os puxadores são particularmente notáveis, com escudetes em forma de leões encimados por uma coroa em bronze dourado. Terá sido pela sua riqueza ornamental que a família real portuguesa levou um exemplar muito idêntico para o Palácio Nacional de Sintra, onde ainda se encontra em exposição, revelando a surpreendente que é a atualidade do contador, ainda hoje, com tudo o que de antigo tem.