objetos com história
- escultura e mobiliário -
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Escultura de Amália, de Miguel Alves Tê
Casa Portuguesa do Pastel de Bacalhau, Rua Augusta, Lisboa
Amália, quis Deus que fosse o seu nome, é a voz que ostenta a coroa de rainha, a essência e a alma do fado. Amália é o fado, como mais ninguém! Aclamada a eterna voz de Portugal naquele que é o estilo musical que mais nos define enquanto povo, Amália Rodrigues (1920-1999) nasceu em Lisboa e a criança tímida que só cantava para o avô e para os vizinhos viu-se obrigada, por dificuldades financeiras da família, a deixar a escola aos 12 anos para se dedicar ao ofício de bordadeira. Na sua adolescência integrou a marcha popular do bairro onde vivia, Alcântara, nas festividades de Santo António de Lisboa e o ensaiador da marcha viu nela um talento invulgar para o fado, convencendo-a a inscrever-se num concurso em que se disputava o título de Rainha do Fado, no qual acabaria por não participar por todas as outras concorrentes se recusarem a competir com tamanho portento.
Em 1939, Amália aceitou o convite para cantar no Retiro da Severa, a casa de fados mais afamada da época, e no ano seguinte estreou-se no teatro Maria Vitória, em Lisboa. Daí para as mais importantes casas de espetáculos internacionais, as cordas vocais da fadista que gostava de trajar de negro perderam a timidez e o mundo passou a ser o seu palco. Amália conquistou as luzes da ribalta e foi ovacionada em Madrid, Rio de Janeiro, Paris, Londres, Roma, Trieste, Berna, Dublin, Tóquio, Cidade do México e Nova Iorque. Na sua estranha forma de vida, Amália reconhecia: “Não foi o meu português, nem a minha falta de espetáculo. Foi a minha autenticidade que venceu.”
Na sua arte, o arquiteto Alves Thomé, ou Miguel Alves Tê como gosta de se apresentar, faz uma busca incessante pelo belo e pela perpetuidade, mesmo quando se trata da arte que retrata a arte, como aqui a escultura retrata o fado. Arquiteto de formação, entende o desenho como forma de expressão artística e trabalha com mestria a técnica da escultura plana, na qual quase conseguimos ouvir o fado de Amália na sua inconfundível voz, para Lisboa inteira se deliciar numa das mais movimentadas ruas da cidade e numa verdadeira casa portuguesa – com certeza! Aqui, Amália continua a cantar até que a voz lhe doa.